quinta-feira, 6 de maio de 2010

Novidades


A notícia de que o vigário da cidade morrera correu veloz por entre os cidadãos. Beatas, devotos e todos os cristãos ficaram instantaneamente sabendo do falecimento do padre, tão querido por todos. Logo se iniciaram os preparativos pro velório do bom homem. Os fiéis procuravam flores pra colocarem no esquife. A diocese local logo foi convocada a mandar o bispo para a missa em que se iria encomendar a Deus o corpo do velho padre.

Dentro da pequena igreja da pacata cidade, dava-se o velório. Muito choro, muitos cânticos e muita oração. As beatas, quase que uniformizadas, usavam saias, anáguas, blusas e véus pretos. Todas com discretos lenços a enxugar as lágrimas que corriam pela face. Os homens empunhavam chapéus e, no semblante triste de cada um, podia-se ver a gratidão pelo sacerdote.

Ainda na singular igreja, muitas homenagens foram prestadas. Mulheres traziam arranjos de flores, coroas e faixas para enfeitar o enterro. Quando enfim o ataúde saiu pela porta principal da igreja, os presentes encetaram um choro mais desesperado, angustiante. Todos se sentiam, de certa forma, órfãos pela perda do estimado padre.

Nas estreitas ruas por onde passava o cortejo fúnebre, viam-se mãos acenando um adeus ressentido, cheio de eterna saudade. Lenços dançavam no vento, presos a mãos que ostentavam consideração. Uma multidão vestida de negro caminhava rumo ao cemitério a fim de sepultarem o homem de Deus. Em cada rosto uma lágrima, em cada lágrima a confirmação da profunda tristeza. Quando já descido o caixão à cova, todos choravam e uns consolavam os outros já voltando pra suas casas.

Durante uma semana a morte do bom padre seria o assunto da pequena cidade, todavia ia ser assunto dividido com a chegada do novo sacerdote. O que na verdade mexia com cada morador era a novidade, coisa que raramente se sucedia naquela cidadezinha tão calma.

Peterson Nogueira

28Ago02

6 comentários:

Peterson Nogueira disse...

Esse texto eu produzi na disciplina "Produção de Texto" sob a orientação do Grande e inteligentérrimo Prof. Palhano, na UFRN, em 2002. Época em que eu estudava no DEART.

Encontrá-lo foi, para mim, um grande feito. Pelas lembranças da época, pelas dificuldades que eu encontrava, pela vida que eu levava. Pelos comentários engrandecedores feitos pelo professor Palhano. Obrigado, mestre!

Unknown disse...

Parabéns cunhado...sou sua fã!

bjs

Arthur Dantas disse...

na minha opinião, vc tem contos melhores...

mas gostei.

Renata Freire disse...

Todos os textos dele são ótimos. Arthut, não tens noção de quanto eu admiro Peterson.

DIALOGRAMATICAL disse...

Quando um poeta expõe sua obra de arte, o texto em verso ou em prosa, cria-se um fio cujas extremidades são a intenção de quem escreve e a expectativa de quem lê; e isso é o que fascina a leitura, é esse o encanto das palavras: o inesperado também faz parte do que é previsível; assim é "Novidades".
Parabéns, amigo "prosoeta"!

Dé Rodrigues disse...

Meu querido poeta e amigo.
Fazer das palavras o alimento e dividi-lo,
é criar caminhos para nossas asas poderem se abrir e alçarem a vida.
Nossos sentimentos pulam de galho em galho na alma do poeta, do atleta, do juntador de letras que nos alimentam, das raízes destas colheitas.
Muitos beijos, que a sorte more em você .
Dé Rodrigues

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Best CD Rates