quinta-feira, 26 de maio de 2011

ÀS ROSAS DO MEU PAÍS

I – À do meu Estado

Senhora Rosa, Aristóteles dizia que não deveríamos cansar o nosso público com o intróito e, para ser breve, digo: admiro a sua administração do/no “País de Mossoró”, cidade na qual nasci e recebi, anos depois, de suas mãos, um prêmio do concurso literário Maria Sílvia de Vasconcelos Câmara. Esse início me serve para enfatizar o acompanhamento que faço de seus passos políticos.

No entanto, contrariando Aristóteles, a senhora está extenuantemente cansando, nesse início de mandato, o povo desse Estado – que há muito tempo tenta se libertar de péssimas administrações. O seu discurso de que o Estado herdou dívidas do governo passado é, sob o ponto de vista da população, vazio de argumentos. Se fizermos uma comparação com a nossa vida, como nunca estamos nos preparando para morrer, quando isso acontece, principalmente repentinamente, deixamos dívidas para os nossos familiares. Os prazos para as dívidas devem continuar também, não é? Na política, entendo ser com esse igual teor. Não há dinheiro? Valha-se da lei de responsabilidade fiscal e faça com que os responsáveis pela dívida maior que os cofres públicos, paguem por isso. A população não pode pagar. Admiro, contudo, os cortes dos gastos supérfluos que – na carta à população – a senhora diz ter executado, mas me pergunto inocentemente: será mesmo que não há dinheiro para fazer o Estado se reerguer? Será mesmo que não há nada a ser feito para alavancar esse Estado que, dentre tantas agruras, está em déficit com a educação – matéria prima para um Estado melhor?

Governadora, a senhora pede à população para apoiá-la, mas e a contrapartida? Estamos sem segurança, sem educação, sem saúde, sem direitos. Será que não é, ao menos justo, que fiquemos indignados com o “nada” com o qual nos encontramos quando, por exemplo, precisamos de ser atendidos em alguma unidade médica e somos tratados com o mesmo abandono em que se encontram as unidades públicas? Ou, por exemplo, sermos mal tratados por motoristas e cobradores, que já ganham infimamente? Não concordo, desculpe-me, com a suposta “pressa” com a qual a senhora se refere aos servidores grevistas.

Senhora Rosa, sem querer entrar no cunho pessoal, mas sem conseguir me desvencilhar de tal aspecto – ainda mais pela ocorrência recente, que hoje comemora uma semana –, fui assaltado na quinta passada e me senti mais lesado porque vejo que a nossa segurança está verdadeiramente fracassada. Como podemos – eu e a população – nos sentir seguros?

Em relação à copa, quase última desculpa fraca de sua carta, não consigo, senhora governadora, perceber qual o rumo da eficiência que há no nosso Estado quando se pensa em sediar um campeonato de futebol, sem antes atentar para as necessidades da própria população. Quais as melhorias palpáveis ao sediarmos esse evento? O nosso povo tem fome e fome é imediata. A nossa fome de conhecimento, de cultura, de lazer, de segurança, de termos alguém que possa olhar por nós é sempre maior do que a vaidade com a qual a senhora receberá alguns poucos representantes que casualmente venham assistir aos jogos na capital potiguar. Clarice Lispector certamente chamaria o ato de “Felicidade clandestina”, eu endosso esse pensamento. E a senhora que me diz? Lembre: a fome é imediata. E, para me valer de suas próprias palavras, governadora, e eu peço perdão pela expressão, a “herança maldita” de grau superlativo é justamente essa tal Copa do Mundo, que somente a senhora pode embargar. Penso que um referendo possa fazer com que o nosso exercício de cidadania seja pleno. Que me diz, senhora governadora? Caso contrário, a população entenderá que o açodamento parte de uma atitude impensada e vaidosa da senhora.

Se é hora para refletirmos – e eu, com sua licença, ratifico seu pensamento –, é hora também de fazer com que os nossos governadores reflitam e lembrem-se de que o povo espera por atitudes concretas. Reflita, governadora, sobre essa Copa, sobre as classes trabalhadoras e não se apresse em dizer que alguém agiu apressadamente. Há uma demora em todos os empreendimentos que não bonifiquem os interesses governamentais, um pouco diferente, por exemplo, da construção vaidosa de um aeroporto e, também, dessa arena. Esse aeroporto, senhora Rosa, serve mesmo à população natalense? Ou a população continuará a desembarcar no Augusto Severo, devido à maior comodidade? Uma vez que não há nenhum benefício na zona norte, infelizmente menos segura que o restante da cidade. E a arena? É ridículo esse descaso com o nosso dinheiro. A população está preocupada.

A sua hora chegou, governadora – e diferentemente “d’A hora e vez de Augusto Matraga”, do nosso diplomata mais enfático Guimarães Rosa –, é na sua hora que podemos ver a força de suas atitudes, é a sua atitude que fará o diferencial dessa política abjeta que nos enfiam pela goela, é a sua atitude que ressoará pelos quatro cantos do Estado, do País e do povo potiguar.

Por fim, governadora, entenda que avançar na reconstrução do nosso Estado é, sobretudo, poder ver no povo um reconhecimento perpétuo de gratidão. Faça valer a sua hora e mostre aos 52, 46% que a elegeram que o caminho não terá atalhos escuros da desconfiança. Os 47, 54% restante também vão enxergar a maestria de sua batuta. Mostre que a senhora pode fazer o melhor pelo Estado.

O povo potiguar agradece.

Peterson Nogueira

4 comentários:

Peterson Nogueira disse...

Senhores, essa carta é uma das prováveis respostas à carta que a Senhora Governadora publicou hoje pela manhã nos jornais da cidade - eu li no "Novo Jornal". Quanto ao título, é porque enviarei para as outras rosas que nos governam, Micarla e Dilma, outras cartas.

Boa leitura.

Abraço!

R6 disse...

Que trilha os passos de Mica. =/

Tinho Valério disse...

Tinha que ser essa pessoa para escrever um texto tão perfeito... Espero que todas essas rosas possam ler suas cartas e acharem soluçoes para nossas angustias!

Paulo Meireles disse...

Ponrrraaa!!!! Valeu, garrote!

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