sexta-feira, 20 de maio de 2011

Paralelos


Eles agem rapidamente. Eram dois – o ato requer apenas um, mas para consagrar a covardia, eles, normalmente, agem em bando. Surgem de um nada fantasmagórico e partem para uma escuridão jamais imaginada. A visão escurece. Não deu tempo de vê-los, embora eu os olhasse de frente, mirando, inocentemente, o olho e o cano do revólver apontado para mim. Sou tão péssimo fisionomista que os policiais pediram para eu descrevê-lo e eu não soube, limitando apenas às imagens do monitor comprovando um assalto recente. E assim levaram a minha bicicleta cara. Mas poderia ter sido qualquer valor, eles levariam da mesma forma. Pediram quase gentis, semelhante a uns monstros, para eu entregar-lhes o celular. Eles eram violentos, agressivos, estúpidos. Eu não sei onde eu estava com a cabeça, mas falei que não tinha – e falara ao celular um minuto antes. Meu medo era de ele tocar. Foi a primeira vez – e espero mansamente – que tenha sido a última. Quem já passou por um assalto sabe o quanto são desesperadores esses segundos. Eu estava em frente à casa de uma professora, amiga minha. E assisti, depois do ocorrido, à cena em que sou assaltado, pelas câmeras de segurança. Imaginei as cenas transmitidas pelos jornais, acostumando-nos a esse tipo de violência urbana.
Quase escutei a voz fúnebre desses apresentadores anunciando uma manchete: “professor é assaltado em frente à casa de colega de trabalho”. Eu tremi mais que qualquer terremoto, mas devido a uma boa fabricação, me mantive em pé, igual a alguns prédios japoneses depois de violentos tremores. Lembrei-me, ainda tremendo, da música “Notícias populares”, da já consagrada Ana Carolina e repeti aliviado, baixinho, de mim para mim: “que façam bom proveito da grana que roubaram porque eu trabalho e outro dinheiro eu vou ganhar.” E vou comprar outra bicicleta.
Estou vivo, sem nenhuma sequela física. Eles sequer tocaram em mim. Mas sei que durante alguns dias, vou ter um medo natural das ruas, da noite, dos meus futuros passeios de bicicleta – a violência está banalizada demais para levar mais tempo de cicatrização. E eu conseguirei reverter tudo. Tenho um rápido poder de cicatrização. Física, pelo menos.
É natural que nessas horas reflitamos sobre a violência que circunda a nossa cidade, o nosso país. Esperamos mais segurança, esperamos mais dignidade, mas de quem cobrar se todos estão querendo sempre passar a responsabilidade adiante? Cobro, cobro e não vejo retorno. Alguns políticos até se calam diante das cobranças. Exemplo assim é o do deputado petista Fernando Mineiro que me pediu – assim que eu comecei a segui-lo no Twitter – para criticá-lo e cobrá-lo, mas tal qual Sansão perdeu as forças com o corte de seu cabelo, Mineiro perdeu a fala, a voz, a escrita e a crítica. E eu nem sou poderoso assim, sou? Na infância, devido ao corte de cabelo, chamavam-me de He-man, será que ele sabe? Quem me segue e vê os meus posts para o candidato percebe que não há um tom ofensivo – sou veementemente contra o argumento ad hominem. E quanto o silêncio dele me fere, aliás, fere uma sociedade inteira. Talvez pela forma agressiva de também calar as respostas que tanto buscamos. Talvez ele não saiba das respostas. Essa é a minha âncora. Afinal de contas, num país em que temos o deputado Jair Bolsonaro, PP-RJ, o ministro da fazenda Antonio Palocci e um patrimônio multiplicado em pouco tempo, cuecas, meias e outros acessórios, também teríamos de ter alguém por aqui para, digamos eufemicamente, negligenciar os seus deveres. Parece ser até normal. Ah, o Fernando Mineiro não está sozinho, tem a sua nobre companheira de partido, a senhora Fátima Bezerra. Gostaria de pedir um favorzinho a ela – por gentileza e bondade – é assim que uma amiga coordenadora inicia qualquer apelo – pare de se auto-initular professora, porque principalmente na educação, você não fez nada.
Aliás, quem faz? A poética da fala, da rima, da boa vontade está fazendo parar escolas, segurança, transportes. Natal está passando pelos piores momentos de sua administração. A culpa é de quem?
Senhores, parem de se preocupar apenas com vosso umbigo. Matem a fome de educação, de segurança, de vida digna que todos nós precisamos. A população está com a baixa autoestima elevadíssima por conta da postura dos senhores. A vida pede passagem na cidade que marca o nascimento do menino Jesus. E se alguém pode fazer algo, esse alguém se encontra aí, justamente onde os senhores se aboletam para assinar papéis e não resolver nada. Até quando?
É mais fácil perdoar os assaltantes; eles não têm outra oportunidade, têm?
Para terminar o meu desabafo, só quero agradecer a Deus por estar aqui, vivo e escrevendo essas minhas angústias. Ele esteve por todo o momento ao meu lado – e com certeza por isso, em nenhum momento, pensei na morte – e se pensei, foi: “não vou morrer neste assalto”. Vou continuar orando para que Deus ilumine os caminhos por onde os dois bandidos passarem, apesar de que a lei da vida é inviolável: tudo tem o seu retorno; nas mesmas intenções de oração, pedirei pelos políticos potiguares. Deus é a essência com a qual sobrevivo, nesses dias de. Como posso adjetivar, senhores políticos?

2 comentários:

Pablo Ramires disse...

Parabéns Prof. Peterson. Belo tópico. Não tive tempo de lê-lo por completo. Mas, é a pura verdade. A violência está banalizada.

Laura disse...

Adorei Peterson.Admiro muito a sua coragem de falar sobre os problemas do nosso país,são poucas as pessoas que têm coragem de lutar com as armas que têm.

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