Era como se jogasse algum jogo. Sempre perdia, no entanto, a arbitrariedade do vício o fazia retornar aos ciclos românticos em que se metia. Jogava Snake no celular e não entendia a intertextualidade contida na sua vida. Amava irregularmente. Parecia não saber a transitividade dos verbos. Parecia não conhecer literatura. Quase nem era. Parecia ser real. Quase parecia uma personagem clariceana. Ou esquecia o “quase” para deslumbrar pontes e viadutos e tecnologias digitais e amores.
Não tinha amores. Não falava sobre porcas e parafusos com ninguém. Sabia que a única pessoa que o compreenderia estava deitada eternamente. E nem era no mais esplêndido berço. Sentia saudade de alguém que nunca vira, que partira antes mesmo de irromperem as primeiras lágrimas. E nem eram as lágrimas que agora tinha vontade de sentir correr pelo rosto. Ora, que contradição! Pensava... Mas, se nunca sentira lágrimas por estar triste por ninguém, queria senti-las! E, com a própria contra-argumentação, se desvencilhava da contradição. Sentia-se cansado.
Lembrava-se dos supostos amores que passaram pela sua vida. Todos castelos de areia, construídos na beira do mar. Queria relacionamentos sólidos e duradouros.
E, tal qual engenheiro, ou arquiteto, ou mesmo Maquiavel, pensava
Estava decidido, desertificaria. Era uma tática para enganar a vida. Desertificaria e fugiria dali. E de si. Talvez se suportasse mais e aceitasse, assim, os outros.
Pensando assim, encontrou seu conto de fadas. E quanto sempre há nas horas.
1 comentários:
pela primeira vez te senti "moderno" (falando literariamente)
o texto parece uma encrusilhada de mil caminhos, que não se sabe aonde vai...
as imagens são uma, mas são várias...
são sempre duplas.
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