quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Uma morte literária

A morte não é nada – dizia Epicuro – enquanto somos, ela não é. Quando ela é, deixamos de ser. Essa não era a filosofia bandeiriana, para quem a morte estava sempre na iminência. Ao descobrir que estava com o mal do século, a tuberculose, logo depois de sair da adolescência, o poeta vê seus sonhos de se tornar arquiteto irem embora. Para ocupar o espaço vazio, escrevia. A morte, sua companheira, ceifa a vida de sua mãe, irmã e pai enquanto ele lutava contra a sua doença. Estrela de uma vida inteira, Manuel Bandeira escrevia sobre a indesejada das gentes para, assim, vivenciar as possibilidades que o distanciavam da vida normal, pretendida por ele. Sua vontade não era ir pra Pasárgada, mas ter as mulheres que nem o rei poderia possuir, dançar...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Compositor de Destinos

Da aquarela da infância, algumas cores jamais bordarão o inverno que passou.Eu assisti a Alice no país das maravilhas. Ora queria ser o coelho, ora o relógio. Eu vi Mary Poppins. Como sonhei com aquele guarda chuva. Até abri um pra ver se conseguia fazer o mesmo. A turma do Nosso Amiguinho e a do Lambe-lambe fizeram parte da minha infância. A turma da Mônica e da Disney invadiam incontinenti o meu lar. Tive infância. Uma infância feliz.Brinquei de peão, esconde-esconde, tica, pai-da-rua, Playmobil, Comandos em Ação. Tinha uma nave do He-man. Neb. Assistia ao Show da Xuxa. Tinha medo do Mestre dos Magos. Adorava o Papai Smurf. Torcia pelo coyote, pelo Tom e gostava da Formiga Atômica, Super Mouse, Flinstones e Jetsons. Tive um vídeo game. Adorava...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Sons da madrugada

Enquanto a madrugada se embebedava na literatura clariceana, ele tinha certeza de ser um menino. Gostava de pronunciar o sobrenome daquela que confirmava o seu ser menino. Lispector, Lispector, Lispector.O menino também gostava do dia, da noite, de Pasárgada, da que anda perdida no mundo, de Ceci, do Pessoa e das pessoas. Gostava de arte, da última Flor do Lácio, das figuras de linguagem e de retórica. Era metafórico. Deleitava-se na ironia. Enamorava-se do Romantismo, tentava se apaixonar pelo Pós-moderno, mas temia se desmanchar no ar. Era sólido?Acreditava no abstrato. Detestava o efêmero. Gostava de chocolates. Não entendia de sentimentos, como todo menino genuíno.Um dia descobriu que responsabilidades podiam fazer dele um homem. E ele...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

De carnaval em carnaval se faz um país chamado Brasil

De repente, um Brasil de carnavais. Assim parece ser o país que acorda com a cuíca em fevereiro. Brasileiros traduzem a felicidade. Assim está descrito nos rostos daqueles que vêem o Brasil ser tal qual está no seu formoso hino, cuja poesia transcende a capacidade intelectiva dos seres comuns, desatentos aos desdobramentos lingüísticos.A morena cartão postal desfila nos calçadões à procura de um fiu fiu delirante. A loira gelada engasga o homem que dá uma espiadinha no decote do corpo escultural que desenha gestos da sensualidade tipicamente brasileira.Um boca do inferno canta a Bahia afro de Castro Alves, brincando com os capitães de Areia de um Jorge tão amado. E há tantos brasis no meu peito Cascudo de Casmurro, que chego a me lembrar das...

sábado, 12 de setembro de 2009

Lata d'água na cabeça

Uma lata na cabeça e uma força motriz: a sede dos filhos. Uma fome canibalesca e um corpo talhado em poucas dimensões, espessuras minguadas e pequenez desenham o busto da mulher que procura a água no sertão nordestino. O nome deve ser Maria e deve ser Das Dores ou Das Forças ou Dos Filhos. A força não pode vir de outro lugar: a esperança e vontade de fazer dos filhos, grandes homens para a construção de uma sociedade mais igualitária. Assim se passam os anos da vida das mulheres que sob o suor do sol, ardem os descalços pés quando caminham na aridez das areias que sujam suas poucas e rasgadas roupas, sempre à procura de água para dissipar a sede, ou alimentar o feijão, a água da vida. Muitas outras Marias vivem sem dores ou com elas, carregam...

domingo, 6 de setembro de 2009

Elegia

“Eras na vida a pomba prediletaQue sobre um mar de angústias conduziaO ramo da esperança. Eras a estrelaQue entre as névoas do inverno cintilavaApontando o caminho ao pegureiro.Eras a messe de um dourado estio.Eras o idílio de um amor sublime.”Fagundes Varela, Cântico do calvário.Ontem, pouco antes de dormir, minha mãe me chamou para falar de uma tragédia que havia circundado a vida de uma amiga nossa, seu marido distraíra-se na estrada e tal distração provocou um acidente. Seu filhinho de seis anos, completos dois dias antes, não resistiu à fratura craniana. Imediatamente perguntei pela mãe, nossa amiga. Ela tinha sobrevivido, quebrara o braço e tinha algumas escoriações pelo corpo e face. E o marido estava em coma. Lamentei profundamente...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O "ídion" e o "idiotes" - Leandro Konder

Quando duas pessoas querem dialogar, duas condições prévias são imprescindíveis: 1) que elas sejam indivíduos diferentes, e 2) que elas tenham alguma coisa em comum.Se não houver nenhuma diferença significativa, se as duas disserem exatamente a mesma coisa, cada uma delas repetindo o que a outra acabou de dizer, teremos não um diálogo, mas um monólogo a duas vozes.Por outro lado, se os dois parceiros do diálogo forem tão completamente diferentes que não tenham sequer um ponto de encontro e nem mesmo consigam falar a mesma língua, o diálogo se torna inviável.O indivíduo é o ser singular, tem uma identidade que o distingue de todos os outros, uma personalidade própria (é o que os antigos gregos chamavam de ídion). No entanto, esse ídion existe...

Para entender os meus versos

O desejo de conhecer o infinito grita na minha almaUma vontade apocalíptica de fazer jus à vidaE esse desejo surge nas noites de lua, ou sem elaCom o sol, ou com a chuvaHá em mim uma euforia que emana silênciosParadoxoMetáforaSaio de mim e entro num vazio quânticoque a física não ousa explicarChora em mim um amor que pretendo serque pretendo darque sonho em conhecerMeus vulcões resultam do padecer das minhas vontadesDe quando não posso sentir os passos firmes no propósito do meu desejoMeus maremotos gritam contra o não que a vida insiste em darEu insisto em desobedecerHá um tsunami lambendo os dissaboresE eu não calo. E eu grito. Eu esperneio. Entorno as taças.Viajo em amores. O longa metragem da minha vida apenas começou.Começou? Como sou?Apenas...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

De poetas ou meninos (Incompleto)

Há um leonino ansioso escrevendo um texto. Chamaram-no de poeta. Ele quis o título pra si. O poeta é um menino. Um homem. Um verbo. Uma fusão do que vê, lê, sente. É santo. E safado. O Sabino era desconhecido. Sorocaba também. Às vezes se confunde com um homem sério, calado, chato. É brincalhão. Detesta dizer a altura. Já o definiram compacto. Acha-se atrapalhado. Tem duas mãos esquerdas. É destro. Entende da abstração que o sentimento implica. Não sabe o que é O sentimento. Não tem medo de distâncias. Escreve.O leonino-poeta observa as coisas do cotidiano. Adora gente. Conversar. Gosta de receber notícias. De dar notícias. Detesta ficar no vácuo. Gosta de política. Adora ir ao cinema, embora não lembre, depois, o nome dos atores principais....

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